Há qualquer coisa de sagrado no coração de cada um. É como se todos tivéssemos uma capela interna para onde podemos correr quando tudo nos desarma.
Ali, onde todas as nossas histórias, lutas, verdades e mágoas se guardam é terreno movediço. Nem todos nos podemos orgulhar do que guardamos dentro do peito. Há finais felizes e sonhos cumpridos, mas também dramas por chorar, episódios que ainda precisam do carimbo do perdão ou raivas que acordariam qualquer monstro.
Quando deixamos que alguém reze a sua vida na nossa, estamos a permitir que entrem no nosso espaço mais precioso. Estamos a permitir que entrem na nossa capelinha privada.
No entanto, apercebo-me da nossa falta de querer deixar que os outros nos conheçam, nos invadam, nos desarrumem. Preferimos uma capelinha limpa de presenças, mas segura e sem riscos. Achamos que sabemos sempre quem vem por Bem ou por Mal, mas não. Não sabemos. E a alternativa a isso não poderá ser: fechar as portas a todos.
No mês de desembrulhar o presépio e de o trazer à luz das coisas com importância, valerá a pena varrer a nossa capelinha de medos, orgulhos, arrogâncias ou superioridades e semear espaço para o que o Céu nos quiser dar.
Marta Arrais | iMissio