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Quem não arde, não vive

«Diante do crucifixo de uma igreja/ uma vela acesa derrete-se do amor e da fé./ Dá toda a luz, todo o calor que possui,/ sem pensar se o fogo a extingue e reduz a pouco e pouco./ Quem não arde, não vive./ Como é bela a chama de um amor que consome,/ contanto que a fé permaneça sempre assim!/ Eu olho e penso. Treme a chama, a cera cola e o pavio fumega.»

Talvez lá fora se ouça o rumor de uma cidade do litoral repleta de veraneantes, ou se aprecie o plácido silêncio da montanha, ou as ruas desertas e sobreaquecidas de uma grande cidade. Abres a porta de uma igreja e eis, na penumbra, o tremeluzir das velas votivas. Avanças e nesse oásis de quietude sentas-te diante desse lume.

É este o quadro que o poeta Trilussa delineia num dos seus não raros poemas religiosos ou espirituais. Sabiamente ele entretece amor e fé, que se fundem na cera daquela candeia que lentamente se derrete. E formula esse princípio basilar da vida autêntica, não só espiritual: «Quem não arde, não vive».

Para se ser luz e calor, é preciso consumir-se. Se, ao contrário, preferes conservar-te, talvez te mantenhas longamente, talvez consigas acumular um belo pé-de-meia de coisas e de dinheiro, mas tornas-te uma pedra fria, uma vela extinta, uma semente murcha.

A lei evangélica do perder para encontrar, do dar para ser feliz, da morte pela vida é difícil de abraçar, e todavia é o único caminho que permite, inclusive a nós, ter uma vida transfigurada. Como a de Cristo na Transfiguração, esplêndido na sua luz que rasga o gelo e a treva.

(Card.) Gianfranco Ravasi 

 

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