A Igreja vive nesse mundo globalizado e, por isso mesmo, é constantemente interpelada ao discernimento. Discernir significa aprender a separar as coisas positivas das negativas que compõem o modo de vida atual. Essa tarefa, aparentemente simples, torna-se desafiadora, pois quase tudo é apresentado como integralmente bom para todos.
Chamados a viver na Igreja, necessitamos estar preparados para seguir o caminho e a verdade do Evangelho, dentro das condições concretas do mundo globalizado, em que a sociedade se organiza a partir de um aspecto global. Realidade que apresenta diferenças econômicas, sociais, políticas, culturais e religiosas, acentuando o indivíduo. Nesse mundo globalizado é possível a inserção sociocultural, mesmo sem que haja interação presencial e social, ou seja, a pessoa consegue conectar-se ao outro pelas redes sociais virtuais, sem se deslocar do seu espaço físico.
A sociedade é, antes, o grupo em que os homens experimentam uma vida comum e total. E em qualquer sociedade pode-se encontrar grupos menores dentro de grupos maiores com indivíduos pertencendo, simultaneamente, a vários grupos. Toda sociedade possui um modo de vida, uma cultura, que definem as formas apropriadas ou necessárias de pensar, agir e sentir. Nesse sentido, uma sociedade pode ser evangelizada em função de sua cultura, de seus grupos constituintes e de suas relações recíprocas. Assim, quando chamados a evangelizar, nos colocamos no caminho do conhecimento de realidades existenciais e culturais que nos desafiam a distinguir:
•A pluralidade, que respeita as diferenças e promove a convivência pacífica. Essa pluralidade é, cada vez mais, vivenciada em todas as esferas das relações humanas e presente nos valores e nas convicções práticas. A sociedade atual se torna, muitas vezes, campo de uma verdadeira batalha espiritual, misturando o sagrado com ideologias culturais, políticas e econômicas, o que reduz as Igrejas e as religiões a uma pequena parte do sistema maior.
•A secularidade, que valoriza positivamente as conquistas humanas, a autonomia das consciências e a liberdade religiosa;
•Os benefícios da tecnologia presentes nas diversas dimensões da vida atual e das relações humanas;
•O uso das redes sociais como expressão de relações humanas prévias e como caminho de novas formas de relações sociais mais amplas, da comunicação virtual, isolada, que dispensa a relação pessoal;
•O consumo dos bens necessários à subsistência e à satisfação equilibrada dos desejos;
•A vivência comunitária, que possibilita a justa relação do eu individual com o outro, do comunitarismo sectário que isola o grupo do mundo.
É para este mundo que se deve levar o anúncio do Evangelho. Comunicar a fé propagando a Boa-Notícia de que a alegria do Reino é para todos, em permanente diálogo com a cultura, com a sociedade e com os povos. Utilizar-se de uma linguagem adequada às realidades existenciais, promovendo a cultura do encontro, do respeito e da acolhida entre as pessoas, bem como o diálogo com as diversas expressões culturais. Tudo isso leva ao encontro pessoal com Jesus Cristo todos os dias.
Aqui está o grande desafio para evangelizar hoje, pois a inserção na realidade do mundo globalizado exige de todos mudança de mentalidade no modo de conceber a própria Igreja. Ela que é “Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito”.
Neuza Silveira de Souza é Coordenadora da Comissão
Arquidiocesana Bíblico-Catequética de BH