Como será, por exemplo, alguém acordar pela manhã e resolver: hoje está frio e vestirei meu casaco vermelho, calçarei as botas, usarei a calça jeans e sentirei atraído por alguém que tenha o mesmo sexo que eu. Difícil imaginar? Nem tanto, se você for uma das inúmeras pessoas que pensam que a homossexualidade é uma escolha pessoal.
Há pessoas que pensam que é assim que funciona. De repente, alguém resolveu ser “diferente”. Talvez, porque, até pouco tempo a conduta do outro estava de acordo com a sua visão do que é certo no mundo e ao perceber no outro algo que não se encaixa no seu próprio padrão, o considera como desvio de comportamento. É importante saber que a orientação sexual não é uma escolha. Não é opção.
Quem escolheria algo que lhe trouxesse constrangimento, intolerância, rejeição de boa parte da sociedade? Quem faria uma opção para sofrer? Para muitos, alcançar a autoaceitação já é um caminho difícil. É uma luta consigo e com o outro. Requer muita vontade de se conhecer, da busca interior, enfrentamento da repressão que domina a educação sexual e coragem. Em seguida, não necessariamente nesta ordem sistemática, a busca do diálogo na família. Há o medo de conversar. Sobretudo, o receio de que tal conversa possa servir de incentivo e então escolhe-se o silêncio gerador da solidão e de somatizações. Num imenso gasto de energia, busca-se negar e até encontrar culpados. Tanta dor ocorre algumas vezes por falta de informação correta. Vencidas tantas barreiras, ainda, resta a sociedade que aponta, julga e condena. Todos querem ser amados. Fugimos do abandono e da rejeição.
A questão principal não é a orientação sexual das pessoas, mas a crueldade daqueles que não conseguem conviver com respeito. Diante do próprio desconforto, contribuem para o sofrimento das pessoas e das famílias, com a sua intolerância e rigidez. O desafio maior é abrir o coração para acolher a pessoa. Assim, podemos dispensar os julgamentos e comentários maliciosos. Indiferente da orientação de desejo, seja do mesmo sexo ou do sexo oposto, trata-se do ser humano. Portanto, não é necessário entender, basta amar. Podemos fazer muitas coisas pelas pessoas, inclusive escolher a benevolência.
Talvez valha a pena levantar pela manhã, e resolver: hoje está frio e vestirei meu casaco vermelho, calçarei as botas, usarei jeans e respeitarei o outro amando-o. E, quando for muito difícil, terei piedade de mim e recomeçarei. Tentarei não condenar e não insistir em colocar peso maior do que ele já carrega. Aliviarei meu próprio peso, porque, estarei comprometido com a minha evolução na prática de amar ao próximo. Sim, amá-lo como é e não como eu desejaria que ele fosse!
Odília Grilo
Psicóloga CRP 04-3634
odiliagrilo@terra.com.br