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País rico é país sem ricos!

Foto: Tuca Vieira

É chocante escutar as falas do vídeo que circula nas redes sociais de suposta reunião de moradores do bairro do Morumbi, bairro de classe média alta de São Paulo, sobre seus vizinhos, os moradores da favela de Paraisópolis.

Os dois bairros dividem muros e geram o contraste que já foi diversas vezes utilizado pra ilustrar o quão extrema é a desigualdade em nosso país. A foto famosa mostra de um lado um condomínio de luxo com uma piscina por andar, margeado por casebres de tijolos amontoados.

O problema é imenso, e ignorado pelo atual bloco dominante a governar o país. Prova disso, mais uma entre centenas, é o recente “Relatório de Desenvolvimento Humano” da ONU. O relatório traz números já conhecidos, e em deterioração, como o de que 10% da nossa população fica com 45% da renda total produzida aqui, em contraste com o fato de termos o 4º melhor IDH da América Latina. Ou seja, somos um país rico porem desigual.

A desigualdade tem causas históricas, e bases estruturais que reproduzem o fenômeno em todos os setores de nossa sociedade, transbordando da economia para a política, direito e cultura. Desde que ocupado por Portugal, há 500 anos, que o projeto de nossa elite é manter-se elite e servir a metrópole a partir do nosso território. A soberania, só raramente, esteve em nossas prioridade políticas.

Não só somos desiguais de forma brutal, com 1% dos mais ricos detendo quase 1/3 da renda – pior do que índices de desigualdade de países árabes – como temos uma subrepresentação política dos pobres em nossos parlamentos. O sistema carcerário é lotado e em sua maioria os presos são pobres, pretos e de periferias. Pra coroar o processo, nossa cultura torna o problema invisível, não nos comovemos, ou nos mobilizamos com a situação de moradores de rua mais do que nos mobilizamos para ver um jogo de futebol.

Desse processo, surgem as horrendas falas dos brancos e ricos moradores do Morumbi, para quem o melhor seria “limpar aquele lugar”, quando se referem à favela vizinha, Paraisópolis.

É como se a riqueza deles e dos 10% não tivesse relação direta com a pobreza dos vizinhos, é como se a história não conectasse a trajetória de migração e exploração da maioria da população preta e periférica, para a construção e manutenção das mansões dos ricos.

É como se nosso Estado, desde a colonização, não fosse construído exatamente para manter esta divisão.

É tão desumano quanto ignorante, e comprova a reflexão de um amigo que certa vez disse, país rico não é país sem pobreza, é país sem ricos.

Marcel Farah
Educador Popular

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