«Se o homem se fecha no silêncio, se a sua mente é livre, Deus lentamente, tenuemente, começa a bater à sua porta.»
São as escassas palavras de um dos muitos “pensamentos” que o italiano Ernesto Olivero, testemunha do compromisso cristão pela paz e o amor, recolheu no volume “Deus dirige o meu coração”.
Trata-se de uma obra que, ao tempo, foi apresentada por nada mais nada menos que o falecido Norberto Bobbio, filósofo, historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício italiano.
Sentindo-se interpelado pelo pensamento acima citado, comentou-o assim: «Nunca encontrarás Deus no meio do barulho dos apregoadores. Encontrá-lo-ás no silencioso curvar-te sobre ti mesmo».
Trata-se de uma consideração felicíssima, porque para ouvir Deus que bate à tua porta não deves ter o som da televisão alto, não deves estar mergulhado em falatório e rumorosidade.
É fácil reevocar um dos mais belos passos do Apocalipse, em que Cristo diz ao fiel: «Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo» (3, 20).
É sugestiva a interseção entre o primado da graça (é Cristo que vem até nós, enclausurados na nossa pequena história e no nosso espaço limitado) e a necessária reação da liberade humana (somos nós que temos de lhe abrir a porta). A meta é a da intimidade e da comunhão, simbolicamente representada pela ceia comum.
A atmosfera necessária é, em todo o caso, a do silêncio, da escuta, da intuição, do coração que ouve os passos do Esperado. Escreve ainda Olivero: «Eu corri o mundo. Mas Tu e eu estávamos sempre face a face e a distância nunca me afastou da minha consciência e de ti».
(Card.) Gianfranco Ravasi