«A verdade é como um imenso vitral caído por terra em mil pedaços. As pessoas precipitam-se, dobram-se, apanham um fragmento e, brandindo-o como uma arma, declaram: “Tenho a verdade na mão!”. Seria preciso, ao contrário, recolher com paciência todos os pedaços, uni-los com a amizade e, no fim, a verdade resplandeceria.»
Falecido aos 66 anos, em 1980, Jean Sulivan, pseudónimo de Joseph Lemarchand, escritor francês, era também sacerdote, estudioso de filosofia, apaixonado pelo cinema e autor de livros intensos. São dele as palavras que hoje desejo propor.
Um vitral ou um mosaico caído por terra reduz-se a uma imensidade de cores. É verdade que se pode ser atraído por uma peça de mosaico que representa um olho ou por um estilhaço dourado de vidro. Mas são apenas um fragmento que exige a beleza do conjunto. Assim é para verdade.
Muitas vezes temos entre as mãos uma verdade, mas estamos convictos de ter a imagem íntegra e absoluta. E assim rechaçamos com arrogância os outros com os seus fragmentos de verdade, criando-se assim uma cadeia de ódio, uma dispersão da luz, uma dissolução do verdadeiro e do bem. O amor é, por isso, indispensável para fazer resplandecer a verdade plena.
Um teólogo famoso, Urs von Balthasar, cunhou uma definição sugestiva: «A verdade é sinfônica». É só no entretecer das várias notas, dos sons e das vozes que ela se desvela.
Gandhi comparava a verdade ao diamante: uno, todavia com muitas faces que não se podem ver na totalidade com um golpe de vista, mas requerem o paciente circuito em torno delas.
Reencontremos, então, o respeito pela porção de verdade que cada um guarda, um respeito que nasce do amor e que consegue recompor o admirável vitral da verdade.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi