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O que é a verdade?

Imagem de skeeze por Pixabay

Esta indagação feita por Pilatos a Jesus, a quem julgava, é a reação de quem está desafiado a uma compreensão que ultrapassa as aparências e circunstâncias. Pilatos sabia que sua função política não poderia jamais dispensar a verdade, mas, ao mesmo tempo, ele representava e estava subordinado aos interesses de um imperador. O governador Pilatos questionou Jesus: então, tu és rei? O Mestre, que falara pouco antes sobre seu reino não ser deste mundo, confundiu o seu interlocutor ao responder: tu dizes, eu sou rei. Nasce o confronto entre duas perspectivas sobre reinado. Jesus ensina que, na lógica mundana, um reino se estabelece por meio da imposição. Já o reino que “não é deste mundo”, fundamenta-se na força da verdade. A realeza de Cristo incomodou Pilatos e os poderosos da época. Por isso, o governador questiona sobre o que é a verdade. Naquela época e ainda hoje, a sociedade padece por não se orientar pelo que é verdadeiro.

O caminho que leva a avanços sociais na direção da justiça e à maturidade na vivência do amor é forjado nos parâmetros da verdade. Percorrer esse caminho deve ser compromisso permanente, que se efetiva a partir do exercício cotidiano da solidariedade. Sem se deixar tocar pelo amor e a verdade, o ser humano fica fragilizado, não age nos parâmetros da civilidade, deixa-se cair no abismo das polarizações irracionais e se sucumbe a outros males. Os resultados são terríveis e humilhantes. Grupos e nações se fecham na mediocridade, cenários que revelam a absoluta falta de entendimentos lúcidos se consolidam. Idolatrias e hegemonias aprisionam pessoas na insensatez, incapacitando-as para reconhecer o que, de fato, importa.

Ainda assim, nesse contexto caótico, emergem também alguns sinais que são broto de esperança. As atitudes dos que se dedicam ao bem se aproximam da verdade testemunhada por Cristo, na sua corajosa e oblativa oferta ao morrer na cruz. Essa proximidade com Cristo fecunda a competência humana para reconhecer o que merece ser valorizado. Na outra margem está o hábito de substituir a verdade pela mentira, arma dos covardes. Infelizmente muitos, de modo semelhante a Pilatos, abrem mão da verdade e permitem, assim, que a sociedade continue a naufragar no fracasso. Agem tomados pela força do medo.

Temem a verdade que liberta, testemunhada por Ele, Cristo, Único Mestre, o Filho de Deus. Pilatos poderia ter compreendido que há uma realeza muito além da que se efetiva na ilusão de um poder, dos cargos que se ocupa, de honras e vestes, configurada e sustentada por um dinheiro que é fruto de mesquinha lógica. A autêntica realeza, a de Cristo, se firma pela nobreza do serviço à vida, do respeito reverente a cada pessoa. A verdade ensinada por Jesus, quando aprendida, faz com que o ser humano se incomode com a atual configuração civilizatória, manchada por diferentes e vergonhosas segregações, a exemplo do abismo que separa pessoas muito ricas de uma grande maioria que sofre com a extrema pobreza.

A verdade que liberta vai além do mero conceito da sinceridade sobre o que se pensa da realidade. Também vai além das relativizações que distanciam muitos do que é real. Infelizmente, as pessoas buscam mascarar o que está diante de todos, optando pela falsidade. Criam o hábito de recorrer, até inconscientemente, à mentira. Há um antídoto para esse mal. Nesta Sexta-feira da Paixão, acompanhando os passos de Jesus rumo à crucificação, cada um dedique-se ao exercício de se revestir dos personagens que participam das diferentes cenas detalhadas no Evangelho. São muitas pessoas, em diferentes situações, que revelam as contradições humanas.

Ao mesmo tempo, quando se fixa o olhar nele, Jesus, o Messias Salvador, homens e mulheres são impulsionados a deixar brotar de seus lábios os ecos de uma interpelação que vem da consciência: o que é a verdade? E a resposta surge na presença e à luz dos gestos daquele que é a verdade e dela dá testemunho, o Filho de Deus. A certeza do encontro com Ele é o caminho novo e a possibilidade de novas respostas para os graves problemas que ameaçam a humanidade.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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