A vida é um dom e, por isso mesmo, exige competência para discernir sobre que direção seguir. Saber discernir é, pois, uma arte que permite construir o bem viver. Trata-se de uma experiência humanística e espiritual, que impacta não somente a própria existência, mas o cotidiano de pessoas próximas. É, assim, fundamental reconhecer que as escolhas requerem responsabilidade, pois levam a vitórias ou a derrotas, dependendo da qualidade do discernimento.
Esses processos decisórios resultam das experiências de vida, de valores morais, espirituais e cívicos. Se forem qualificados, possibilitam avançar rumo ao bem e à justiça. Mas, se os equívocos prevalecem, tempo e esforços são necessários para recuperar as perdas. Importante perceber: tudo depende das escolhas e, nesse sentido, o exercício da cidadania merece atenção especial. Cada pessoa precisa ter clareza para escolher o que gera equilíbrio e impulsiona rumo a avanços muito necessários.
Opções inadequadas são especialmente lastimáveis quando ocorrem por falhas na formação humanística e no exercício cidadão. Quando se toma uma direção equivocada, as perdas são inevitáveis e o peso recai sobre os ombros de muitos. É necessário refletir, por exemplo, a respeito dos prejuízos sofridos pela sociedade brasileira ao longo da história, provocados por quem deveria exercer a representatividade e servir ao povo. Sucessivas crises submetem a população ao sofrimento e ameaçam, principalmente, a vida presente e futura dos mais pobres. Vida que se constrói, ou se destrói, conforme a qualidade das escolhas. Essa verdade vale para as relações no âmbito doméstico, na esfera familiar, mas também incide nos domínios da esfera profissional, governamental e tantas outras. Por isso, ainda mais graves são as escolhas equivocadas de quem tem o poder de decidir, representando uma grande coletividade. Dependendo das decisões, torna-se inviável o atendimento de demandas urgentes.
Não menos importante é refletir a respeito das escolhas pessoais, de cidadãos comuns, sobretudo no horizonte deste ano eleitoral, quando a sociedade tem a desafiadora tarefa de eleger candidatos para dar novos rumos ao país. A exigência é encontrar, entre os que vão se submeter às urnas, quem tem a sensibilidade humanística para identificar as reais necessidades da nação. Essa responsabilidade cidadã de votar bem não é algo simples, pois, nesse processo, é insuficiente a atitude de orientar-se apenas por convicções pessoais. A escolha de candidatos é uma dinâmica que exige a articulação de muitos elementos. Um exercício de discernimento que busca perceber, nos que disputam as eleições, os parâmetros morais indispensáveis para que, no futuro, se eleitos, não negociem o que é inegociável, sejam sempre promotores do bem comum e da justiça.
Nas eleições, as paixões políticas que fazem “vista grossa” para certas atitudes de candidatos não devem prevalecer. A vitória de partidos não é o que importa. O essencial é a opção por pessoas e propostas orientadas por sólidos parâmetros humanísticos. Assim, será possível escolher adequadamente, ajudando a sociedade a trilhar novos rumos. Com um maduro processo de discernimento, os cidadãos conseguirão identificar – e rejeitar – candidatos interessados apenas em seus projetos pessoais, em defender partidos e apoiadores, abraçando objetivos pouco nobres – ancorados na mediocridade.
Compete ao eleitor assumir a exigente responsabilidade de se dedicar às análises, buscar conhecer melhor o cenário político, identificar bem os perfis dos candidatos, para poder confiar seu voto a quem, de fato, merece: homens e mulheres humanisticamente competentes, capazes de cumprir o que se propõem a fazer. O momento atual pede acertadas escolhas, para que a sociedade brasileira construa um futuro melhor.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte