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«Se eu puder impedir um coração de se quebrar, não terei vivido em vão. Se aliviar a dor de uma vida ou curar um sofrimento, ou ajudar um passarinho caído a voltar ao ninho, não terei vivido em vão.»

É, em absoluto, uma das poetisas que me é mais querida, a americana Emily Dickinson, que viveu no século XIX em isolamento na casa paterna de uma cidadezinha do Massachussets.

Os seus versos são sempre límpidos, ainda que nem sempre fáceis, e revelam uma intensa espiritualidade que se confia aos grandes temas bíblicos e à contemplação da natureza, a partir do microcosmo do jardim da família.

Escolhi hoje alguns versos que refletem uma mensagem imediata e cristã. Não se vive em vão, não porque realizaste grandes projetos, não porque as multidões te aclamaram, e também não por teres deixado livros que ganham pó nas bibliotecas.

A verdadeira herança que assegura a eternidade é o amor que se semeou, mesmo nos pequenos gestos como é o de suster um passarinho recém-nascido, ou acariciar a quem está em sofrimento e talvez não o saiba exprimir.

Sobretudo gostaria de sublinhar a frase «impedir um coração de se quebrar». Demasiadas vezes passamos pelo próximo com a segurança e o distanciamento de um príncipe que não quer saber do povo.

Não nos damos conta das perguntas mudas, das pessoas frágeis que empurramos, dos sentimentos delicados que ignoramos e, até, desprezamos. Reencontrar a finura da alma, sem afetação mas com doçura, permitirá aos outros e a nós confessar que não vivemos em vão.

P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire

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