É um grande cliché. Certamente cansativo. Com boa chance, nove em dez pessoas não aguentam mais ouvir que o grande problema é o enfraquecimento das instituições. De acordo com esta corrente de pensamento, é a fraqueza das instituições a responsável pela condução do processo de deterioração dos valores que informam a democracia.
Embora compreensível, o argumento não deixa de ser estranho. Confunde definições. Instituições não são prédios, organizações ou outras manifestações físicas. São, na verdade, abstratas.
Instituições são organizações ou mecanismos sociais, abstratos ou concretos, que controlam o funcionamento da sociedade e, por conseguinte, dos indivíduos. Refletem experiências quantitativas e qualitativas dos processos socioeconômicos.
Instituições são organizadas sob o escopo de regras e normas, sejam elas leis ou não. Em tese, elas dão ordem à maneira como indivíduos interagem baseados em crenças sobre as quais haja consenso. Em outras palavras, as instituições têm como objetivo fazer um indivíduo tornar-se membro da sociedade, determinando quais os comportamentos aceitáveis ou não. Elas nada mais são que um feixe de crenças sobre as quais a sociedade concorda implícita ou explicitamente.
Portanto, talvez o problema não seja a fraqueza das instituições. Talvez a questão de fundo seja justamente o contrario. Talvez exista um consenso coletivo, inconsciente ou não, que facilite, promova ou torne aceitáveis, ações e comportamentos cujos resultados não sejam a justiça social ou mesmo qualquer forma de melhoria coletiva.
Desta maneira, não é a falta de valores que traz os dissabores atuais. É, talvez, a crença ou aceitação de valores socialmente indesejáveis, e a tolerância com as ações por eles justificadas. Por isso é tão fácil e frequente a explicação e aceitação de condutas indesejáveis com base no argumento de que todo mundo faz igual.
Antes de se pensar na reforma dos prédios, e em qualquer outra manifestação física das instituições, talvez seja o caso de promover novo consenso sobre o que é ou não aceitável na conduta individual e coletiva. E agir de acordo com estes novos consensos.
Está claro que o conjunto de valores e crenças existentes não está funcionando em beneficio da maior parte das pessoas. O momento grita, implora e suplica por novos valores, novas crenças, novas práticas.
Com novos valores, brotarão, certamente, instituições melhores. E, esperemos, igualmente fortes.
Elton Simões
Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV);
MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria)