A vida humana é marcada pela bonita condição do desejo de amar e de ser amado. O amor é sempre uma chamada que deve perpassar as mais variadas relações que nos cercam, e mais: podemos encher o mundo com o amor. Mas como nos custa amar, quantos equívocos e falências devem constatar-se no exercício do amor. O amor é sempre uma possibilidade que insiste em reviver dentro e fora de nós. As palavras de Jesus sempre nos colocam na confiança do amor verdadeiro. E qual a origem do amor humano? Que devemos fazer para exercitá-lo em nossas relações, tornando-as sadias? Faz-se oportuno tomar em conta as Sagradas Escrituras para melhor significar o autêntico sentido da arte de amar e de ser amado.
Vivemos em sociedades cada vez mais marcadas pela busca de si e de autorreferencialismos. Sem querer insistir na visão negativa das relações contemporâneas, o amor parece ter exilado-se de nosso meio. As nossas relações, no geral, parecem doentias. O amor humano deve partir sempre do amor de Cristo, pois este é fiel e forte, capaz de gerar a verdadeira paz e alegria, capaz ainda de unir pessoas na liberdade e no respeito mútuo. Um dos textos bíblicos mais belos sobre a altura do amor encontra-se no Evangelho de São João, capítulo 13: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou até ao extremo o seu amor por eles”. Percebe-se nestes fatos da Última Ceia de Jesus com seus discípulos um modelo convincente da medida do dar e do receber amor. São João narra que Cristo, no contexto da páscoa judaica, ama os seus que estão no mundo, e os ama até a medida da extremidade, ou seja, sem reservas.
A origem da medida do amor humano deve partir do extremo amor de Cristo. O cristão jamais pode pretender amar sem o aspecto fundamental da cruz. Jesus fora capaz, na medida de seu amor, de transformar o ato da morte num ato de doação, de amor que se ocupa com o último lugar, que vai até o fim. O remédio para tanta incapacidade de amar gratuitamente está na adesão livre pelo serviço ao outro, como nosso Salvador fizera. Adoecemos nas relações porque absolutizamos as nossas necessidades em detrimento do “não olhar” para as necessidades dos irmãos – preferimos viver centralizados em nós mesmos e nas dores. O segredo que marca a autenticidade do amor cristão no convívio humano passa pelo esquecimento de si – as páginas do Evangelho não conhecem outra lógica!
Dom Manoel Delson
Arcebispo Metropolitano da Paraíba