Um dia numa cidade ruída um prédio a mais ruiu. Não fez muito barulho , não teve muita ressonância porque era um prédio ocupado por renegados, ejetados da locomotiva. Aquela que atropela quem não embarca com ideais “de bem” dentro do bolso. Deus , trabalho, família, pátria, PSDB.
Um dia numa cidade ruída mais um prédio ruiu e fez fumaça. Mas incomodou pouco os olhos alheios. O prédio abandonado havia sido invadido . A conclusão pois é que a culpa é sempre dos invasores e não daqueles que se sentem invadidos pelas coisas erradas que acontecem nos nossos corações cruzando avenidas ou sertões.
Um dia numa cidade ruída fez uma secura tamanha nos sentimentos que as pessoas começaram a pedir água, trégua , paz. Uma cidade inundada por bons sentimentos por favor. Mas acontece que agora é o esgoto que aflora. E a culpa é dos mais pobres, mais feios, mais sujos e mais malvados.
A cidade via seguir ruindo se ninguém se propor a erguer novos alicerces. Tijolo por tijolo num desenho mágico.
Ricardo Soares
Escritor
(Publicado no portal Dom Total)