Os acontecimentos da vida, que é uma escola, são lições. Por isso, é muito comum ouvir o dito popular “vivendo e aprendendo”. As lições são muitas e o desafio maior é aprendê-las. Só as aprende quem se coloca no lugar de aprendiz. Há quem se arvora em mestre dos outros e perde a capacidade para aprender, pois acredita que já sabe de tudo. Aprende mais quem está disposto a escutar. A incompetência para o aprendizado atinge seu patamar avassalador quando incide no tecido cultural da sociedade, revelando um fenômeno: muitos se julgam na condição de ensinar, e acreditam que não precisam mais aprender.
Consequentemente, há o travamento das dinâmicas que promovem as evoluções na compreensão. Falta lucidez para a solução dos problemas e a sociedade permanece ameaçada pelos extremismos. Nesse contexto, convive-se ainda com desmandos e corrupção. Falta vergonha aos que se permitem usufruir de privilégios, que alimentam exclusões e discriminações. Eis a névoa que confunde as feições e paira sobre a sociedade brasileira, obscurecendo a verdade e tornando a mentira a protagonista da história. Tudo vale para defender interesses particulares, até mesmo ações inconsequentes.
Não deveria ser assim, pois a sociedade brasileira, em seus mais de cinco séculos de história, já deveria ter assimilado muitas lições. Mas a incapacidade para aprender pode explicar o desenvolvimento pífio do país. Se as lições da história fossem aprendidas, a classe política brasileira poderia, agora, ajudar o Brasil a sair do caos dos desencontros e aproveitar melhor as oportunidades deste tempo, valendo-se das riquezas ambientais e culturais da nação. Ao invés disso, vê-se um pavoroso “bate-cabeça” entre os que ocupam os lugares de lideranças sem serem líderes. A consequência é a disseminação de um jeito de ser que contamina também os espaços políticos. A demagogia torna-se a tônica principal, contracenando com a desconfiança e os ataques mútuos.
Os posicionamentos polarizados, quando se transformam em hostilidades, ferem visceralmente o andamento da vida do povo, enfraquecem as indispensáveis alianças, obscurecem os diálogos e instalam o caos. Há uma completa perda do sentido de limite. A insistência nos equívocos e as miopias que impedem enxergar as soluções agravam os problemas e multiplicam os pesos sobre os ombros de todos. Assim, o cidadão se distancia das lições que o possibilitariam ajudar na construção de um país melhor. Passa-se a enxergar apenas a própria causa, a considerar como único e intocável o discurso que se defende. O resultado é a gravíssima perda da sensibilidade para se abrir a uma inadiável dinâmica de conversão, capaz de inspirar atitudes com força de mudanças.
Sem os aprendizados necessários, contenta-se apenas com o conforto institucional do lugar ocupado e seus privilégios – a incapacidade para se colocar no lugar do outro, a quem se deveria servir e ajudar. Para mudar essa postura, devem-se habilitar os olhos para enxergar além dos próprios interesses e comodidades. Admitir que o exercício qualificado da cidadania não pode conviver com os conchavos, os privilégios e a busca por vantagens a partir da corrupção.
A sociedade brasileira clama precisada de um novo ciclo de aprendizagens das muitas lições que estão inseridas em sua história. As instituições e segmentos da sociedade carecem de gestos corajosos para aprender, por meio do diálogo, a cuidar do bem comum a todo custo. A transformação do país, para conseguir sair dos limites perigosos a que chegou, exige de todos um gesto de conversão, bem concreto. É preciso modificar funcionamentos para recuperar a credibilidade perdida, importante para o urgente processo de mudança: um tempo novo para o aprendizado das lições, Brasil!
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte