«O ser mais infeliz do mundo é aquele no qual a realidade mais habitual e praticada é a indecisão.»
A hesitação a que aqui me refiro não é a ponderação séria e motivada («característica da inteligência», como a definia o escritor francês Henri de Montherlant), mas como substancial incapacidade de escolher, indecisão, precisamente.
Trata-se de uma doença da alma que tem sobretudo um efeito, como afirma na frase citada o filósofo norte-americano William James: a infelicidade.
Quem não sabe optar por uma escolha, permanecendo aquém do agir, encontra-se numa insegurança permanente que o tortura e o torna agitado e insatisfeito.
Creio que todos na vida encontramos pelo menos um exemplar desta síndrome espiritual: pessoas, talvez, dotadas de grandes qualidades, que não estabelecem nada porque nunca querem arriscar uma decisão, entrevendo-lhe o negativo possível.
Uma ajuda poderia ser o conselho e o apoio de uma pessoa amiga; mas muitas vezes nem sequer com uma presença ao lado conseguem superar a sua dúvida permanente, o seu titubear sistemático, a radical insegurança do seu eu, o constante vacilar da sua vontade.
Estamos, portanto, na presença de um fenômeno humano delicado que não deve ser ridicularizado, porque arrasta consigo infelicidade e amargura.
Todavia, a concluir, gostaria de recordar a quem não é afligido por esse limite uma frase do prólogo de um drama de Brecht, “A alma boa de Setsuan”: «Hesitar é sempre bom, desde que faças aquilo que deves fazer». Um pouco de reflexão e cautela é, com efeito, sempre necessária.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins