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Gosto daquela história em que há alguém que pergunta: «Como explicarias a uma criança o que é a felicidade?». E a resposta é: «Não explicaria. Lançar-lhe-ia uma bola para que possa jogar».

Aquilo que nos torna felizes deve ser uma experiência infinitamente mais humilde do que a norma fantasiosa requerida pela ideologia da felicidade. Em vez de uma felicidade abstrata, deveríamos falar mais, por exemplo, da alegria.

A alegria mergulha as raízes no dia a dia; mesmo quando nos surpreende imprevistamente, ela emerge de um itinerário existencial que podemos reconstruir; sabemos o que é e como se chega até ela.

Deveríamos falar mais de ligeireza, a qualidade daqueles que permitem à vida manter um impulso, uma espécie de transparência e gratidão, ligadas não àquilo que a vida foi ou que poderia ter sido, mas ao indizível milagre que ela, a cada instante é.

Deveríamos falar de simplicidade, essa capacidade de partir continuamente do essencial, fazendo dele uma opção, uma prática e um estilo.

E falar daquelas pequenas esperanças, de quanto recebemos e damos, estabelecendo dessa forma o movimento circular da vida, que depois se torna o guia e o espelho das nossas aspirações maiores.

Falar, em resumo, de coisas concretas, ao alcance da mão, coisas talvez banais que que vêm, com imediatez, jogar aos nossos pés. Tornar-nos-emos mais infelizes se elevamos a felicidade ao ponto de a idealizar.


D. José Tolentino Mendonça 

Publicado em: iMissio

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