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Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu

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Das orações aprendidas na infância, a Salve-Rainha é uma das mais intrigantes. Tem umas expressões difíceis de serem entendidas e que mais tarde, quando se fica mais velho, mostram-se duras. Dentre elas, destaca-se a expressão “depois desse desterro, mostrai-nos Jesus”. A vida que se leva na terra é vista como um desterro, porque a pátria definitiva seria o céu. Estaríamos numa terra que não é a nossa.

Atentando para o sentido mais antropológico ou existencial da oração, vale ressaltar a experiência do desterro. Embora a palavra designe expatriação ou exílio, seu sentimento não é exclusividade de um migrante – ainda que nele a experiência seja bem mais drástica e com impactos objetivos. De alguma forma, o humano conhece bem a sensação de estar deslocado, sem terra, sem chão, sem solo, (daí) desolado. Por isso a oração também diz dos “degredados filhos de Eva”.

Degredo é sinônimo de desterro. Tomando a história da Origem (Gênesis), vemos a humanidade que rompe com o paraíso primordial, quando vivia em comunhão e harmonia com o restante da criação e com o Criador. Com a unidade rompida, a humanidade fica sem seu chão, desolada. Urge lembrar que, moldada do solo, do barro da terra, ao estar desterrada, está apartada inclusive de si. Os filhos de Eva são desterrados porque estão cindidos em suas relações e apartados de si mesmos. É como se na vida errassem por caminhos em busca de sua própria origem, de quem são. O humano que rompe com a harmonia de suas relações está desprovido de sua própria humanidade e, portanto, apartado de si.

De fato, muitas vezes olhamos para nós mesmos e, dando-nos conta daquilo que podemos e de como gostaríamos de ser, notamos nossa limitação e incapacidade de realizar tamanho projeto, de alcançar a plenitude das próprias potencialidades. Dessa incompatibilidade surge certo descontentamento como se estivéssemos vivendo uma vida que não é nossa, habitando uma terra que não é nossa casa. Olhar para o que se pode ser e dar-se conta de como se é gera o sentimento de estar distante do que mais lhe é próprio, gera desolação.

Sabemos quem somos. Sabemos de nosso melhor e por isso temos saudades disso que, às vezes, nem vivemos. São saudades dessa terra que nos constitui e da qual nos apartamos. Às vezes o exílio se dá em terras próximas onde a cultura não é tão diferente; outras, a estranheza é nítida. Quando, contudo, o processo de inserção e de acolhida acontece, deixa de se ser meramente expatriado para se ser cidadão. Quando acolhemos quem somos, mesmo percebendo a distância daquilo que gostaríamos de ser, passamos por um processo positivo de apropriação que faz desse novo lugar algo inteiramente nosso, não somos mais estranhos ou estrangeiros a nós mesmos.

 

Gilmar Pereira
Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, graduado em Filosofia pelo CES-JF e em Teologia pela FAJE.

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