Denso, mas transparente como uma lágrima. Quem me dera um caminho assim! Tenho por ele um sentimento profundo e não podia ser diferente. Ele sou eu em toda a minha complexidade. Eco de tantas buscas, noites escuras, aurora a brilhar. Feito de atalhos ou longas trilhas, dores e alegrias misturadas, certezas e dúvidas quase sempre incertas, inverno e verão, ânsia de viver, sentir, ser. No peito, o desejo de caminhar. Não importa se a passos largos ou pequenos, a valsa dos sentimentos vai aos poucos conduzindo a dança e, na arquitetura instável do silêncio, eis que surge um belo casamento: caminho e vida.
A comunhão é tão perfeita que já não se sabe onde começa um e termina o outro. A caminhada ganha sabor de eternidade para revelar que o caminho é feito todos os dias, todas as horas, por toda a vida. Une o céu e a terra. Para você amar e desejar tocar uma estrela, sorrir para a lua, perceber que a amizade é bela, andando pela rua. Para você descobrir que existe um sol morando no seu peito e se sentir feliz a cada amanhecer. Para você experimentar demoradamente a bondade, sem medo de crescer, pois ela tem de ser fortaleza, ter gana de luta para não fenecer.
Quão triste é a descrença, a desistência, o não mais acreditar que a poesia pode ainda nos guiar. Porque é ternura que colore o mundo e carrega asas no olhar. Exala o perfume do amor, mar que serena o dia e acolhe o infinito na flor. É também prosa da boa, desejo mais puro de fraternidade, buquê de cores do arco-íris dos sonhos.
Segue caminhar… vai atrás do seu tesouro. O mundo é aberto e os pés livres para percorrer as distâncias. Corre estrada e vereda sem descanso, esperança também é abrigo e a alegria, remanso. Vai sem temores… sem punhos cerrados. Somente mãos abertas para deixar a paz escorrer entre os dedos.
Que os amigos façam parte dos seus maiores bens e Deus seja o seu segredo. Que o seu olhar seja prece, convite gentil para que o cuidado desperte. Novo a cada encontro. Não será esse o sentido de caminhar? Gostar de cantar, quando cai chuva miúda, sentir o calor de um abraço, gosto formoso de fruta madura? Despertar a magia escondida no peito de cada um, aumentar as possibilidades de sentir sabor, irradiar o encanto, permitir a sua criança brincar e amar e amar… tanto… tanto?
No fim você há de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar:
o folhear de um livro
um carinho no momento preciso
a delicadeza da rosa como nosso hino
a alma de missionário e um coração de menino.
Samantha Guedes Barbosa