«Penso no teólogo que não espera porque possui Deus fechado num edifício doutrinal. Penso no homem de Igreja que não espera Deus porque o possui encerrado numa instituição. Penso no crente que não espera Deus porque o possui enclausurado na própria experiência.
Não é fácil suportar este não possuir Deus, este esperar Deus. O Advento é um termo que, pela sua natureza, supõe uma expetativa: se se preanunciou uma vinda, é óbvio que haja um mínimo de tensão.»
Reencontrei estas linhas do teólogo norte-americano Paul Tillich (1886-1965) e parecem-me adaptadas para registar um fenómeno espiritual oposto ao Advento.
Há, com efeito, um clima bem diferente não só na sociedade civil, que não espera mais nada fora de si mesma, dobrada como está sobre os seus bens, os seus prazeres, as suas possessões, no horizonte do útil e do imediato.
Mas não há expetativa verdadeira também na própria comunidade cristã quando repete os ritos natalícios quase como se fossem tradições obrigatórias e dadas como adquiridas.
Como escreve Tillich, há o teólogo que está convencido de que capturou Deus no seu sistema doutrinal. Há o sacerdote que repete a sua liturgia e os seus programas pastorais segundo uma rotina de resultados previsíveis.
E há o fiel que se encerra nos seus afazeres, reservando a Deus só o tempo indispensável, de modo a não comprometer o equilíbrio entre interesses exteriores e respeito religioso.
Ao contrário, adverte o teólogo, deveríamos estar todos mais conscientes de que não possuímos Deus, de que precisarmos de lhe deixar um espaço livre amplo e livre para que Ele possa chegar a nós e em nós.
Esperar Deus deveria ser uma lei constante do espírito: Deus é infinito, os seus dons são sempre novos, o seu mistério é sempre inultrapassável, apesar da nossa tentativa de o sondar e a ilusão de o exaurir. Por isso devemos sempre esperá-lo e as suas surpresas nunca cessarão.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In “Avvenire”
Trad.: SNPC
Publicado em 12.12.2017