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É possível aceitar sem compreender?

Aceitar sem compreender é, talvez, um dos maiores desafios a que nos propomos. O que nos apetece, realmente, é não aceitar sem compreender. É como se colocássemos uma condição. Eu só aceito se compreender. E, por isso, acabo por aceitar muito pouco. Claro que é profundamente difícil encontrar consolo no vazio do que fica por entender e abarcar. Claro que é penoso (e doloroso) encontrar razões ou explicações para o que não tem razão nem explicação alguma. Não sei se já alguém vos terá alertado para isto mas, lamentavelmente, parece-me que será sempre assim. Infelizmente, não adquirimos a capacidade de encontrar explicações (ou razões) para tudo, por muito hercúleo que seja o nosso esforço.

Não vamos conseguir compreender tudo o que nos acontece ou está para acontecer. Não vamos encontrar sempre raiozinhos de sol dourados pelo caminho. Não vamos ser capazes de responder a todas as nossas perguntas nem a todas as perguntas que nos fizerem. Vamos olhar, muitas vezes, sem perceber. Sem alcançar. Sem conseguir discernir o que nos trouxe, ou como nos trouxemos, até ali. Ou aqui. Ou acolá.

Seria extraordinário encontrar um motivo óbvio e simples para cada episódio menos ou mais feliz. Seria, também, cansativo. Não somos chamados a entender. Somos chamados a aceitar. Não somos chamados a receber. Somos chamados a dar. Não somos chamados a virar a cara para o lado. Somos chamados a olhar nos olhos. Não somos chamados a ser cobardes. Somos chamados à verdade e a ser de verdade.

É importante compreender que esse raciocínio não rima com o “aceitar tudo e mais alguma coisa” nem com o “deixar-se ficar ou pisar”. Aceitar não tem muito que ver com baixar a cabeça e deixar que o mundo nos passe por cima ou, em alternativa, que salte ao eixo em cima das nossas costas. Aceitar é respirar fundo e interiorizar que nem tudo está feito para se compreender. Nem tudo tem uma explicação. Nem tudo tem um motivo que caiba dentro do nosso entendimento. Aceitar é não querer saber tudo mesmo que se possa.

Aceitas?!

Marta Arrais
Cronista e Professora
iMissio

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