As eleições deste ano podem ser consideradas as mais exigentes desde a redemocratização do Brasil. Não basta simplesmente comparecer às urnas, sem compromisso com o voto consciente. Cresce a convicção a respeito da necessidade de se escolher bem, buscando evitar o voto branco ou nulo. Quem desconsidera a própria importância na definição dos rumos do país adota postura antidemocrática, pois todos devem reconhecer: o voto consciente é essencial na tarefa de reconduzir o Brasil aos parâmetros republicanos, a partir de escolhas que sejam “broto de esperança” para a nação.
Quem é capaz de ser presidente do Brasil? Como compor adequada e qualificadamente a representação na Câmara, Senado e nas Assembleias Legislativas? A quem confiar o voto para governador de Estado? Essas questões devem inspirar processos de reflexão em todos os eleitores, no momento que precede o dia de votação. A cada eleitor, pede-se o necessário discernimento eleitoral. E esse exercício, reconheça-se, está ocorrendo sobre os trilhos de uma democracia muito frágil e desfigurada. Infelizmente, interesses cartoriais, de grupos, partidos, oligarquias, que ferem o bem comum, distantes de parâmetros republicanos, minam a credibilidade das instituições. Por isso, o horizonte eleitoral na sociedade brasileira está tão contaminado por práticas lamentáveis, percebidas, por exemplo, nas campanhas de candidatos no rádio, TV e internet.
Os frequentes ataques pessoais para tentar convencer o eleitor causam tristeza. Opta-se por dizer que o outro não presta, em vez de se apresentar boas ideias, ou de se conquistar o voto cultivando autoridade moral. A atual configuração do cenário partidário também prejudica o discernimento dos eleitores, pois prevalece, nos programas das legendas, uma perspectiva estereotipada, que reduz partidos a concepções de “esquerda”, “direita” ou “centrão”. E a ideologia, não raramente, ganha tanta força que pode eleger quem não tem capacidade para exercer o poder. Todas essas complexidades não podem desanimar o eleitor, pois as eleições 2018, mais do que simplesmente definir os que exercerão a representação política no próximo quadriênio, poderão, ou não, ser o ponto de partida para superar décadas de atraso.
Embora se reconheça a importância da configuração partidária, especialmente na composição das casas legislativas – tão relevantes quanto o Poder Executivo – vale muito considerar, na atualidade, a capacidade de cada indivíduo que se candidata. Nunca foi tão determinante, como agora, a qualificação cidadã e moral dos políticos que serão eleitos. Todos sabem que promessas de campanha são comuns. A sociedade brasileira está cansada do que é prometido, mas nunca cumprido. Propostas que, posteriormente, são esquecidas em razão de interesses mesquinhos e espúrios. Por isso mesmo, os critérios centrais na definição do voto devem ser a envergadura moral, a competência relacional, a capacidade gerencial e o caráter de cada candidato.
O Brasil precisa, nas instâncias do poder, de homens e mulheres que priorizem o bem comum. Não é fácil a tarefa de reconhecer os nomes mais adequados. Nesse exercício, é muito necessário redobrar o cuidado para não se apegar somente às ideologias, que cooptam e seduzem, encobertando certos absurdos e disparates. O foco do eleitor deve estar na trajetória de quem se candidata para tornar-se representante do povo, identificando a presença ou a ausência de qualidades que são imprescindíveis para os que buscam ocupar cargos no poder. Aos oportunistas e aos iludidos a respeito da própria capacidade, não seja concedida a autoridade para determinar os rumos do país.
Os eleitos precisam ser capazes de conduzir a nação rumo a caminhos novos, fora dos esquemas de favorecimento, da corrupção, de tudo o que impede o Brasil de viver um desenvolvimento integral. Os nomes estão circulando – na mídia, nas redes sociais, nos panfletos e nas bandeiras. Cabe ao eleitor exercer o qualificado discernimento na definição de suas escolhas. Uma tarefa a ser assumida por todos, para que as eleições 2018 não sejam, mais tarde, percebidas e lamentadas como mais um fracasso da sociedade brasileira.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte