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Acordei desesperado porque no meu sonho, por mais que me esforçasse, não conseguia usar qualquer ferramenta online para saber onde estava o meu smartphone. Isso levou-me a questionar se o relacionamento com essa tecnologia é saudável.

Ao ler um livro sobre a importância de reclamar a conversação numa era tecnológica como a nossa, fiquei a saber que muitas pessoas referem-se ao seu smartphone como o «meu pequeno deus».

Na prática, através dessa tecnologia, literalmente nas nossas mãos, conseguimos editar o que dizemos, como aparecemos, e sobretudo quem passa algum tempo nas redes sociais começa, através dessas, a adquirir um sentido diferente de si mesmo. Pois, passam muito tempo a desempenhar o papel de uma versão melhor de si próprias. Depois, vem a dúvida, sou o eu-real não editado ou o eu-virtual editado?

O livro que me levou a pensar nisto é escrito por Sherry Turkle, ”Reclaiming Conversation”, e nele refere o que uma colega lhe diz diante deste desempenho que procuramos realizar através das redes sociais – «Tu perdes-te no teu desempenho.»

Qual a razão para investirmos tanto tempo nas redes sociais a editar a nossa vida se nos perdemos a nós mesmos? Penso que seja a falta de sentido e significado das nossas vulnerabilidades. Mas sabiam que estar confortável com as nossas vulnerabilidades é a causa central de uma vida mais feliz, criativa e produtiva?

O ser humano, apesar destes desafios culturais em que vive, é um ser resiliente. E a cura para recuperar o real sentido do sagrado que não passa pela tecnologia que temos nas nossas mãos e, assim, recuperar o verdadeiro sentido daquilo que somos, é o diálogo face-a-face.

Não precisamos de eliminar a tecnologia da nossa vida, mas desenvolver uma consciência plena (noofulness) dos efeitos profundos que tem em nós, de modo a usarmos o nosso smartphone com intenções mais claras e uma escolha de vida diferente onde esse não é um pequeno deus.

Miguel Oliveira Panão | IMissio

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