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CRISTÃS E CRISTÃOS PERIGOSOS

Se o cenário sócio-político brasileiro furta nosso sonho por um país possível, há lugar para nos perguntarmos sobre nossa responsabilidade nesse sequestro da esperança. Nossa esperança foi sequestrada. Precisamente, a força de um golpe político, tal como o que foi dado em nossa Democracia, nos deixa sem horizontes, o futuro é diluído no caos presente e a força da vida esvai-se como sangue em veia rompida. Os dias sucedem-se um a um trazendo angústias, medos e o terrível sentimento de estarmos sozinhos. Verdadeira depressão social. Os sonhos e as utopias não movimentam o presente, encerramos-nos numa bruta caverna, a realidade parece se tornar ficção. É quando somos engolidos por um sistema que nos paralisou, impedindo, desde nosso psicológico individual até o social, qualquer reação contrária capaz de romper com a inércia na qual nos encontramos.

É nesse momento que se tornam perigosas as propagandas alardeadas por grupos poderosos da comunicação, utilizando velhos esquemas para comover e parecer interessada pelas questões importantes para muitos grupos desprestigiados e desprotegidos pelos Estados, tal como o caso de crianças e adolescentes. Esses grupos refugiam-se atrás dos sonhos dos desfavorecidos, advogando o resgate da esperança que eles mesmos ajudaram a sequestrar. Incoerência. Maldade. Num momento em que milhares de pessoas dormem numa fila quilométrica para arrumar emprego, suportando o frio da madrugada sem saber se serão contemplados com uma senha para entrevista, é vexatório apelarem doações em dinheiro em canal aberto, que chega, sobretudo, aos lares desesperançados pela falta de emprego, com o slogan de que “está difícil para todo mundo”. Não. Não está difícil para todo mundo. Está difícil para os trabalhadores e trabalhadoras que perderam os empregos, não para os patrões, os grandes empresários que lucram com uma reforma trabalhista realizada por um Congresso que não se interessa pelo Povo. Os carcarás estão sempre à espreita das vítimas, olhando do alto, sabem escolher aquelas que menos oferecem resistência.

O melhor para o momento é saber ouvir, passar tudo pela peneira e duvidar de bom número de vozes que aparecem por aí apelando tranquilidade. Nós, os cristãos e as cristãs, sabemos, desde a experiência fundamental da fé, que a vida é feita de luzes, sombras e o que há entre essas duas realidades. Por isso, entendemos que o desespero e a desesperança não apresentam força transformadora para modificar a realidade. Pelo contrário, eles nos tornam violentos, cegos para ver entre uma coisa e outra, lentos para discernir os melhores caminhos e as ações mais acertadas. Desse modo, precisamos ser mulheres e homens de esperança, não essa vendida esperança, mas aquela que é fruto da fé e que não decepciona, precisamente porque rema contra a maré, é esperança contra toda esperança.

Nessa esteira é que há sentido um cristianismo à maneira da práxis libertadora de Jesus, um cristianismo de cristãs e de cristãos perigosos. Perigosos porque cultivam sonhos e utopias mesmo quando em realidade caóticas, pois entendem que a promessa existente através dos séculos é a de a vida ser sempre mais. Testemunham uma solidariedade desinteressada de lucros e preocupada com as pessoas. Não encerram-se em capelas para louvores, jejuns e orações, mais que isso, nutrem-se da palavra de Jesus e da vida do Mestre para avançar na promoção do bem e na denúncia de sistemas falaciosos. A esses homens e mulheres, discípulos e discípulas de Jesus, e a outros engajados por um país novo possível, é que dissemos que a esperança deles não está sozinha. Juntos somos perigo.

Tânia da Silva Mayer
Mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE)
Graduanda em Letras pela UFMG.

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