A Iniciação à vida Cristã é um tema central da nossa realidade. É considerado importante para a caminhada da Igreja no cumprimento do mandato missionário deixado por Jesus. Esse mandato de Jesus é um chamado de vocação cristã. Todo cristão é convocado para a missão de anunciar Jesus Cristo, de proclamar sua Palavra, de proporcionar o encontro do irmão na fé com Jesus Cristo, pois toda vida humana é “um estar com o Senhor”.
Do mesmo jeito que Jesus foi enviado pelo Pai, na força do Espírito, para vir até nós e nos mostrar quem é o Pai, como é o seu Reino, assim também, ele chamou os doze apóstolos para estarem com ele, enviou-os para o anúncio do Reino, conforme podemos ver nos Evangelhos segundo Marcos 3,13-19 e Mateus 10, 1-42. Da mesma forma, Jesus envia sua Igreja, uma Igreja viva constituída para ser o corpo de Cristo, essa Igreja que Ele acompanha todos os dias com a graça do seu olhar e a ação fecunda do seu Espírito. A certeza que temos de Ele estar sempre conosco se confirma em sua própria fala, no Evangelho segundo Mateus 28,20: “eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos”.
Quando falamos em anunciar o Reino, estamos falando sobre anunciar Jesus, sua pessoa, sua vida, seu agir, pois o Reino de Deus é a pessoa de Jesus e sua mensagem. Ele mesmo é a chegada desse Reino. Nele, o Reino é dado gratuitamente (Mt 21,34; Lc 12,32), é deixado em herança (Mt 25,34; Lc 22,29). Cabe a nós, seus discípulos, acolhê-lo por meio da conversão e da fé.
Que anúncio devemos fazer?
Já vimos, anteriormente, que o querígma é o primeiro anúncio fundamental da Morte e Ressurreição de Jesus, muito presente nas pregações apostólicas, o núcleo da mensagem cristã que ajuda no processo de conversão. Do primeiro anúncio brota a experiência com a pessoa de Jesus, ponto essencial para uma catequese madura e um discipulado autêntico.
A mensagem do querígma não é apenas um simples discurso, mas a proclamação de um acontecimento de salvação. Sua centralidade é a chegada do Reino de Deus.
Nós encontramos o texto do querígma, de forma bem estruturada, na Primeira Carta aos Coríntios 15,3 que diz: ” Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado, ao terceiro dia, ressuscitado, apareceu a Cefas e depois aos doze”.
Toda a fé cristã está de certa forma alicerçada nessas palavras. Paulo em sua narrativa afirma que essa é uma tradição que ele recebeu e passou adiante a seus evangelizados. Diz , ainda, que o nosso Deus nos deu coragem e segurança para anunciar seu evangelho, em meio a muitas lutas. Deus nos examinou e nos aprovou para nos confiar o seu Evangelho.
O querígma apresenta um texto que, além de padronizado, está cuidadosamente composto. Quatro eventos estão em evidência (morte, sepultamento, ressurreição e aparição), dois dos quais são fundamentais, a saber, a morte e a ressurreição do Cristo. Cada um deles é introduzido por meio de uma unidade redacional composta de modo a oferecer uma interpretação para o evento. As unidades para a morte e a ressurreição estão compostas de linhas ou pensamentos que correspondem a linhas similares na outra unidade. Vejamos: o sepultamento enfatiza a realidade da morte de Cristo, da mesma forma que a aparição enfatiza a realidade da ressurreição.
Essa fórmula “querigmática” não foi criada em um momento de inspiração. Ela é fruto de um longo período de trabalho intelectual coletivo, incluindo acordos sobre a importância do foco na morte de Jesus como o evento de maior significado para a comunidade. Essa fórmula possui caráter crítico que leva a um confronto, é provocador, deixa inquietações. Nesse sentido, a mensagem do querígma não pode ser transmitida por meio de conceitos. Antes, trata-se de experiência que toca a liberdade, reorienta e dá sentido à vida.
Assim, Jesus ensinava: partia da experiência do povo e o encaminhava para novas experiências. Essa vivência do encontro transformador com Jesus Cristo é que nos insere na comunhão com a Santíssima Trindade e nos comunica a missão de anunciar o Reino de Deus com palavras e sinais. O anúncio do querígma quer promover o encontro com o Senhor e a partir daí despertar o seguimento do Mestre como caminho para se ter a vida plena.
Assim, somos chamados a anunciar, a mergulhar nas profundezas da existência humana, a abrir nossos corações em louvor, por todas as criaturas. Somos chamados a nos deixar angustiar diante de todas as formas de vida ameaçada, encontrando, assim, o sentido mais profundo da busca e propiciando o encontro com Cristo. Encontro que deve renovar-se constantemente pelo testemunho pessoal, pelo anúncio do querígma e pela ação missionária da comunidade.
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A fé que recebemos precisa ser transmitida com o anúncio e com o nosso testemunho concreto. A fé é a resposta da revelação de Deus. Por isso, não se trata de estar simplesmente fazendo uma escolha, mas realizando a adesão da experiência de Jesus em nossas vidas. Uma experiência que nos coloca em situação de missionários de Cristo.
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Bíblico-Catequética da Arquidiocese de BH
-Texto de referência: Diretrizes gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. 2015-2019.