Somos alérgicos às tristezas dos outros. Não gostamos de ser confrontados com as tragédias e as dores alheias. Afastamo-nos quando alguém não está bem, com medo que se pegue. Com medo que a tristeza seja, de algum modo, contagiosa. Não gostamos que os outros partilhem connosco as suas mágoas porque nos incomodam. É como se nos retirassem a alegria e o bem-estar.
Gostava que aprendêssemos a ter menos medo do sofrimento dos outros e do sofrimento em geral. Na realidade, o sofrimento ensina-nos o que nenhum outro sentimento poderá ensinar. Ensina-nos a ter paciência. A esperar. A ter fé no dia de amanhã. A agradecer o que já tínhamos de bom.
Gostava que não nos maçasse tanto que os outros sofram mais do que nós. Que em vez da opção da fuga pudéssemos escolher ficar. Acalmar a tempestade que não é nossa. Segurar a vida dos outros como quem tem consciência do cristal precioso que tem entre as mãos. Gostava que soubéssemos receber melhor as tristezas que não são nossas e que não quiséssemos ter varinhas de condão para acabar com o sofrimento (como se de uma praga se tratasse).
O sofrimento pode ser bom se nos ajudar a criar empatia com os outros. Se nos permitir aprender a valorizar os que nunca nos abandonam (mesmo nas horas incrivelmente dolorosas). Se nos deixar mais humildes, mais pequenos, mais capazes.
Não está nas nossas mãos acabar com o sofrimento de ninguém mas está nas nossas mãos tentar aliviar o peso do fardo que cada um carrega. E desengane-se quem acha que os mais sorridentes não carregam, também, o peso de uma ou outra cruz.
Gostava que tivéssemos menos medo da tristeza, da doença, da dor, do golpe.
Afinal, é cada uma dessas coisas que mais genuinamente nos aproxima uns dos outros.
Marta Arrais | iMissio