Para milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro para a oração mariana do Angelus, o Papa Francisco recordou a figura de João Batista que a liturgia propôs no II domingo do Advento. Batista pregava “um batismo de conversão para o perdão dos pecados”, disse o Papa, mas talvez nos perguntemos “porque nos devemos converter, se a conversão é para aquele que de ateu se torna crente, de pecador se faz justo, enquanto que nós já somos cristãos e, portanto, estamos bem”.
Mas é mesmo desta presunção que nos devemos converter, sublinhou Francisco, da suposição de que, afinal, está bem assim e não precisamos de qualquer conversão, pois nem sempre temos na vida os mesmos sentimentos de Jesus:
“Por exemplo, quando recebemos alguma ofensa ou alguma afronta, conseguimos reagir sem animosidade e perdoar do fundo do coração quem nos pede perdão? Quando somos chamados a partilhar alegrias e tristezas, sabemos sinceramente chorar com quem chora e alegrar-nos com quem se alegra? Quando devemos exprimir a nossa fé, sabemos fazê-lo com coragem e simplicidade, sem envergonhar-nos do Evangelho”?
A voz do Batista, disse Francisco, continua a gritar ainda hoje nos desertos da humanidade, exortando-nos a viver uma vida segundo o Evangelho. Hoje, como então, ele nos adverte “Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas”, um premente convite a abrir o coração e acolher a salvação que Deus nos oferece incessantemente, quase obstinadamente, porque quer que todos sejamos livres da escravidão do pecado. E esta salvação é oferecida a todos os homens, a todos os povos, sem excluir ninguém, porque Deus quer que todos os homens sejam salvos por meio de Jesus Cristo, único mediador, insistiu o Papa.
E se o Senhor nos mudou a vida, também nós devemos sentir a paixão de torná-lo conhecido a todos os que encontramos no trabalho, na escola, no prédio, no hospital, nos lugares de encontro. À nossa volta, disse o Papa, vemos pessoas que estariam disponíveis a iniciar ou reiniciar um caminho de fé, se encontrassem cristãos apaixonados por Jesus. “Não devíamos e não podíamos ser nós tais cristãos?”, se perguntou Francisco, convidando todos a ter a coragem de abater as montanhas do orgulho e da rivalidade, preencher os sulcos cavados pela indiferença e a apatia, endireitar os caminhos da nossa preguiça e dos nossos compromissos.
E o Papa invocou a Virgem Maria para que nos ajude a abater as barreiras e os obstáculos que impedem a nossa conversão, isto é o nosso caminho ao encontro do Senhor.
Depois do Angelus, o Santo Padre referiu-se à Conferência COP21 que decorre em Paris, sobre as mudanças climáticas. “Sigo com grande atenção os trabalhos da Conferência sobre as Alterações Climáticas a decorrer em Paris, e volta à minha mente uma pergunta que fiz na Encíclica Laudato sì: ‘Que tipo de mundo queremos transmitir àqueles que virão depois de nós, às crianças que estão a crescer?’. Para o bem da casa comum, de todos nós e das futuras gerações, em Paris todos os esforços deveriam ser para mitigar os impactos das mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, para combater a pobreza e fazer florescer a dignidade humana. Rezemos para que o Espírito Santo ilumine os que são chamados a tomar decisões tão importantes e que Ele lhes dê a coragem de manter sempre como critério de escolha o bem maior para toda a família humana”.
Sobre do 50° aniversário da Declaração Conjunta do Papa Paulo VI e o Patriarca Ecumênico Atenágoras, que a 7 de dezembro de 1965 cancelava as sentenças de excomunhão recíproca entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla emanadas em 1054, Francisco disse “É realmente providencial que aquele gesto histórico de reconciliação, que criou as condições para um novo diálogo entre ortodoxos e católicos no amor e na verdade, seja recordado precisamente no início do Jubileu da Misericórdia. Não existe autêntico caminho rumo à unidade sem um pedido de perdão a Deus e entre nós, pelo pecado da divisão. Recordemos na nossa oração o querido Patriarca Ecumênico Bartolomeu e os outros Chefes das Igrejas Ortodoxas, e peçamos ao Senhor que as relações entre católicos e ortodoxos sejam sempre inspiradas pelo amor fraterno”.
O Papa recordou também as beatificações que tiveram lugar no sábado, 05 de dezembro, em Chimbote (Peru), de Michele Tomaszek e Zbigniew Strzalkowski, franciscanos conventuais, e Alessandro Dordi, sacerdorte fidei donum, mortos por ódio à fé em 1991, tendo rezado para que a fidelidade destes mártires nos dê força a todos nós, mas especialmente aos cristãos perseguidos em diferentes partes do mundo, para testemunhar com coragem o Evangelho.
Por último, Francisco saudou cordialmente os peregrinos vindos da Itália e de diversos países, especialmente os fiéis de Casal de Cambra, em Portugal e os participantes na conferência do Movimento do Empenho Educativo da Acção Católica.
Fonte: www.news.va