+ MONSENHOR NIVALDO DOS SANTOS FERREIRA
Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte
Bispo Titular de Thiava
“Oboediens usque ad mortem”
O SIGNIFICADO DA MENSAGEM DO BRASÃO EPISCOPAL
I – Deus Uno e Trino: a espiritualidade trinitária está indicada pela invocação central, na vertical, da Glória da Cruz: + Glória ao Pai (parte superior), + Glória ao Filho (Cordeiro Imolado — mártir, ao centro), e + Glória ao Espírito Santo (parte inferior).
II – A inspiração do Espírito Santo (símbolo da Pomba — parte superior central) preside toda a mensagem da “Paz, que é artesanal” (Papa Francisco). É o Espírito que pairava sobre as águas, na Criação (Gn 1,2); o Espírito do Ressuscitado soprado sobre os Apóstolos (Jo 20,22; At 2,2-4), para continuarem a Profecia e a missão da Igreja.
III – O Cordeiro Imolado, Jesus Cristo Redentor, explicita o lema “Oboediens usque ad mortem”.
- Livro do Profeta Isaías 52,13: “Vede! O meu servo prosperará, será exaltado, elevado, e muito sublime.”
- Livro do Profeta Isaías 53,12: “Por isso, vou partilhar muitos com ele, e com os fortes dividirá os despojos, pois entregou à
morte sua própria vida, e foi contado entre os criminosos. Ele, porém, estava carregando os pecados de muitos e agora intercede
pelos transgressores.” - Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas 22,37: “Pois eu vos digo: é preciso que se cumpra em mim a palavra da Escritura:
‘Ele foi contado entre os malfeitores. O que foi dito a meu respeito está se consumando’.” - Carta de São Paulo aos Filipenses 2,8: “Obediente até a morte e morte de Cruz.”
- ✓ Obediência (do latim oboedire = escutar com atenção, de OB, “atenção”, +
AUDIRE, “escutar”). Escuta com atenção a Palavra do Pai, faze a vontade do Pai.
Sê livre, sê para… Entrega-te!
✓ Morte (do latim mortem): morte substitutiva (de Cristo), que nos livra da morte
eterna. É o Mistério Fontal: Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. É o Mistério
da Páscoa: oblatividade universal: dá a sua vida por todas e todos. Esvaziou-se;
desapegou-se, humilhou-se… Kenosis.
✓ Cruz e Cordeiro em vermelho: pela força do Espírito de Amor, o Martírio: maior
testemunho. Cristo é Fiel até o fim, não para vencer, mas para servir: “Veio para
servir e não ser servido” (Mt 20,28). “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a
si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” (Mt 16,24). (Mística do Chamado).
IV – A Coroa representa Maria: ela é a Rainha do Céu e da Terra porque em primeiro lugar escuta com qualidade a Palavra de Deus e oferece o seu “Façase” (Lc 1,38). Maria é a primeira discípula/missionária. Segue seu Filho até a Morte de Cruz! Torna-se nossa Mãe pela solidariedade misericordiosa do Coração de Jesus. A palavra profética que nasce do seu cuidadoso coração é: “fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).
V – As doze Estrelas: indicam a totalidade do Povo de Deus ao qual servir. Reunido pelas doze tribos de Israel (Ruben, Simeão, Judá, Zebulão, Isacar, Asher, Neftáli, Efraim, Manassés, Gad, Benjamim e Levi) e, depois, constituído pelos doze Apóstolos (Pedro, Tiago, João, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, Tadeu, Simão) enviados pelo Ressuscitado para a construção de uma “Igreja em saída” (EG 20), proclamadora da Palavra, samaritana, profética e servidora da Obra Redentora do Senhor, em todo o mundo.
VI – O Lírio representa José do Egito: irmão universal (Gn 37,11-28; 41,41ss). Representa acima de tudo José, descendente de Davi, de cuja raiz deveria nascer Jesus (Mt 1,16.20). Portanto, José escolhido e aberto à Palavra de Deus, “sonha os sonhos lindos de Deus” e não hesita em cumprir a Vontade de Deus que o chama: levanta-se e se coloca a caminho para cuidar e proteger a Vida da Mãe e do Filho (Mt 2,13) — as duas preciosidades da nossa fé. É “patris corde” (Papa Francisco): pai amado, de ternura, na obediência, no acolhimento, com coragem criativa, trabalhador, na sombra (silêncio eloquente).
VII – Na Barca de Pedro estão todas e todos os convidados (como os Apóstolos) a acolher a indicação do Senhor de “lançar as redes para as águas mais profundas” (Lc 5,4). Agitada pelos ventos e pelas ondas do mar da vida, essa barca não pode parar de buscar outra margem (sempre outra percepção). Assim, poderá colher, com ousadia e perseverança, a realidade última de cada pessoa, acontecimento, lugar cultural e social, principalmente das multidões mais pobres. A travessia da Igreja é em direção ao Reino da Justiça e da Paz. Daqui
se deduz que temos de dar passos, peregrinar, sem medo no caminho evangelizador, com Profecia e Testemunho, deixando marcas inspiradoras para facilitar a adesão a Cristo.
VIII – Nuvem: o “Lançar as redes” hoje é “entrar na Rede”. Tempos desafiadores de comunicação. De fato, a nuvem na Bíblia significa, tanto no AT quanto no NT, o lugar da autocomunicação de Deus ao ser humano: por exemplo, “na manhã do terceiro dia…, uma nuvem espessa cobria a montanha…, o Senhor desceu sobre o monte Sinai, e chamou Moisés… (Ex 19, 16.20) e “Da nuvem veio a voz: ‘Este é o meu Filho Amado, Escutai-O’” (Mc 9, 7). Agora, da Nuvem Virtual (ciberespaço) deve ecoar a Palavra para todos que estão conectados, independentemente de raça, sexo, credo, cultura e realidade social. “Tudo está interligado!” (Laudato Sì, 138). O azul do mar é acolhedor
da nossa humanidade peregrina, responsável pela construção artesanal da justiça e da paz: “Vamos precisar de todo mundo: um mais um é sempre mais que dois, a felicidade mora ao lado… Para melhor construir a vida nova, é só repartir melhor o pão.” (Beto Guedes, Sal da Terra).
IX – O semicírculo verde que divide o brasão é habitado ecologicamente pela sonhada Casa Comum, que deve ser cuidada por todos. Recolhedora de energia pura (sustentável), para inspirar a Economia de Francisco e Clara, que prioriza a vida de todos, principalmente dos pobres, três antenas em movimento indicam o ser humano aberto a Deus, capaz de colher também a energia espiritual ininterruptamente — única que permite garantir a Ecologia Integral, da fraternidade e amizade social (Fratelli Tutti, 6).
X – Três montes são indicados na parte superior com as linhas coloridas em vermelho, verde e escuro. O Monte é o lugar da mística (pela ascese e oração, o diálogo salutar com Deus): “Jesus subiu ao monte para rezar” (Mt 14,23). O primeiro monte, em vermelho, alude ao Monte Calvário, onde foi fincada a Cruz de Cristo neste mundo para nos salvar. O segundo monte, escuro, a Serra da Piedade — Magnífica Arquitetura Divina (Jardim de Nossa Senhora da Piedade) — de que devemos cuidar, proteger e não explorar seu minério para abastecer a ganância e o lucro. É Casa Comum de todas e todos, e não fonte de riqueza de alguns poucos. Assim é toda a natureza, indicada pelo terceiro monte, que é o Monte Mário, situado na Serra da Mantiqueira, em Barbacena – MG, referência para o Distrito Rural do Faria, terra natal do bispo.
XI – O dourado que circunda toda a periferia do Brasão indica a opção preferencial pelos pobres e caídos (o ouro da Igreja), reafirmando uma Igreja samaritana e em saída. É o verdadeiro tesouro da Igreja, como menciona São Lourenço, mártir. São os preferidos de Deus e aqueles que foram buscados por Jesus, seja nas periferias das cidades (caídos e esquecidos pelos caminhos), seja nas periferias existenciais da sociedade adoecida pelo preconceito e pela injustiça social. De fato, Deus caminha conosco, luta conosco e não faz acepção
de pessoas (At 10,34).
(O Brasão foi desenvolvido por Otávio Câmara de Queiroz e as explicações mereceram as sugestões de José Maurício de Faria Ferraz, aos quais o bispo devota profunda gratidão e amizade).
(O Brasão foi desenvolvido por Otávio Câmara de Queiroz e as explicações mereceram as sugestões de José Maurício de Faria Ferraz, aos quais o bispo devota profunda gratidão e amizade).
Mons. Nivaldo dos Santos Ferreira
“Oboediens usque ad mortem”