O perdão de Deus “é amor autêntico” que ajuda o homem a se transformar “no melhor daquilo que pode ser”. Gira em torno desse fundamento de misericórdia a sétima meditação dos exercícios espirituais da Quaresma feita pelo Pe. Ermes Ronchi ao Papa Francisco e à Cúria Romana na cidade de Ariccia, nas proximidades de Roma. A passagem evangélica da mulher adúltera perdoada por Jesus, explicou o pregador, nos lembra que acusadores e hipócritas negam Deus, a Sua misericórdia.
Quem ama acusar, entusiasmando-se com os defeitos dos outros, sublinha Pe. Hermes, acredita de salvar a verdade lapidando aqueles que erram. Mas assim nascem as guerras. São provocados conflitos “entre as nações, mas também nas instituições eclesiásticas, nos conventos, nos escritórios”, onde as regras, constituições e decretos se transformam em rochas “para lapidar alguém”.
Hipócritas e acusadores colocam Deus contra o homem
Durante séculos, a passagem da adúltera foi ignorada pelas comunidades cristãs porque “escandalizava a misericórdia de Deus”. O nome da mulher não é revelado. “Representa todos”, é esmagada pelo poderes da morte que expressam a opressão dos homens sobre as mulheres.
Os fariseus colocam o pecado “ao centro da relação com Deus”, mas “a Bíblia não é um amuleto”: exige “inteligência e coração”. Os poderes que não hesitam em usar uma vida humana e a religião “colocam Deus contra o homem”. É essa “a tragédia do fundamentalismo religioso”. “O Senhor não suporta hipócritas, aqueles das máscaras, do coração duplo, os comediantes da fé, e não suporta acusadores e juízes”.
A vocação do cristianismo é, ao contrário, no abraço entre Deus e o homem. “Não se opõe mais”, “matéria e espírito se abraçam”. A doença que Jesus teme e que mais combate é “o coração de pedra” dos hipócritas: “violar um corpo, culpado ou inocente, com as pedras ou com o poder, é a negação de Deus que naquela pessoa vive”.
Onde há misericórdia, ali está Deus
O parecer contra a adúltera se transformou “num boomerang contra a hipocrisia dos juízes”. “Ninguém pode atirar a pedra, iria lançá-la contra si mesmo”. Onde há misericórdia, escrevia Santo Ambrósio, ali está Deus; onde há rigor e severidade talvez existam os ministros de Deus, mas não Deus”.
Jesus se ergue perante a mulher adúltera, “como quando se levanta para uma pessoa importante”. Ele se ergue para estar mais próximo dela, na proximidade, e fala com ela. Ninguém tinha falado com ela antes. “A sua história, o seu tormento interior, não interessavam”. Ao contrário faz Jesus, que recebe o profundo daquela alma. “A fragilidade é mestre de humanidade”:
“É a cura dos frágeis, é a cura dos últimos, dos portadores de deficiências e a atenção às pedras descartadas que indicam o grau de civilização de um povo, não as proezas dos fortes e dos poderosos”.
Para Jesus não interessa o remorso, mas a sinceridade do coração. O seu perdão é “sem condições, sem cláusulas, sem contrapartidas”. Jesus coloca ele mesmo no lugar de todos os condenados, de todos os pecadores. Rompe a “rede maléfica” ligada à ideia de “um Deus que condena e se vinga, justificando a violência”.
O amor de Deus muda a vida
O coração da história não é o pecado para ser condenado ou perdoado. Ao centro não há o mal, mas “um Deus maior do nosso coração” que não banaliza a culpa, mas faz repartir o homem de onde ele tenha parado. Abre sentimentos, recoloca na estrada certa, faz realizar um passo para frente, “escancara o futuro”.
Jesus realiza “uma revolução radical”, desordenando a tradicional ordem com “acima de todos um Deus que julga e castiga”. “Um Deus nu, na cruz, que perdoa, será o gesto comovente e necessário para desativar o pavio das infinitas bombas sobre as quais se sentou a humanidade”.
“Não o Deus onipotente, mas o Abba oni-amante. Não mais o dedo apontado, mas aquele que escreve sobre a pedra do coração: eu te amo”.
“Vai e, a partir de agora, não peque mais”. São as palavras suficientes para mudar uma vida. Aquilo que está para trás não importa mais. É o futuro agora que conta. “O bem possível de amanhã conta mais que o mal de ontem”. Deus perdoa “não como alguém sem memória, mas como um libertador”. O perdão não é ostentar benevolência, “mas recolocar uma vida no caminho”.
O perdão libera das escravidões do passado
Muitas pessoas vivem “como em uma prisão perpétua interior”, esmagadas pelos sentimentos de culpa por causa de erros feitos no passado. Mas “Jesus abre as portas das nossas prisões, desfaz as forcas sobre as quais frequentemente arrastamos nós mesmos e os outros”. “Jesus sabe que o homem não equivale ao seu pecado”. Ao Senhor não interessa o passado. “É Deus do futuro”.
As palavras de Jesus e os seus gestos quebram o esquema bons/maus, culpados/inocentes. Aos olhos que veem o pecado, concluiu o Pe. Ermes Ronchi, se pede de ver o sol: “a luz é mais importante do escuro”, “o grão vale mais que o joio”, “o bem pesa mais que o mal”.
Fonte: news.va