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Meio ambiente desafia.

 

O meio ambiente não é simplesmente uma fonte de exploração, que existe com o propósito de sustentar uma produção insaciável. A natureza é generosa, mas não consegue acompanhar a dinâmica que produz o ilimitado desejo de lucrar. A posição de quem se fundamenta apenas pela lógica do lucro, compreendendo-o como ideal de crescimento, produz um buraco que atinge o sentido indispensável e insubstituível da solidariedade. Deste modo, compromete o grande e único remédio que garante o equilíbrio da sociedade.

 

A situação, não incomum, de uma família que se sustenta com uma quantia monetária significativa e, por um determinado motivo, precisa diminuir seus gastos, ilustra o argumento de que a ganância que se estabelece a partir da lógica do lucro desenfreado causa, na verdade, prejuízos.  Quando, por algum fator ou injunção, esta família precisa reduzir seus gastos porque teve diminuída sua renda, mesmo contando com mais recursos que uma família pobre, instala-se uma crise de todo tamanho. A vida parece chegar ao fim, impossível de ser tocada adiante. Não se consegue fazer um raciocínio que adote com facilidade, simplicidade e austeridade um modo diferente e adaptado de viver.

 

Nessa pirâmide injusta que configura o cenário das sociedades, prevalece o raciocínio de que é preciso ganhar e ajuntar sempre mais. Uma dinâmica que gera a frieza do materialismo, ilusoriamente produtor de prazeres e comodidades, que cega a competência cidadã da solidariedade, a exigência da fé cristã de uma vida simples, comprometida com o bem de todos, particularmente com as necessidades e urgências que afligem os mais pobres e miseráveis.

 

A exploração perversa do meio ambiente, tratamento inadequado da natureza, criação e dom de Deus, é resultado da necessidade impulsiva e descontrolada de satisfazer os propósitos de quem produz e de quem consome. As degradações que se pode visitar e conhecer, nos diferentes cenários – da natureza devastada e até a miserabilidade social estabelecida – são frutos deste modo de tratamento. É uma perda irracional do sentido mais autêntico da vida, constituído pela solidariedade. Nasce e se desenvolve assim a lógica do lucro desenfreado, até com respaldo legal, por força de hermenêuticas não suficientemente lúcidas quanto ao tratamento do meio ambiente, da exploração da natureza com a consequente criação de estilos de vida que nos distanciam da nossa própria condição humana, nos adoecendo em todos os sentidos.

 

Se somos um mundo mais desenvolvido, com mais facilidades e oportunidades, somos também um mundo mais doente.  E nossa vida está mais distante da indispensável proximidade com a natureza. Esta distância gera e alimenta a perversidade de tratamentos, a priorização de interesses mesquinhos e a constituição de projetos que “fazem figura”, produzem “vista grossa” de órgãos reguladores e controladores, um desrespeito ao sentido humano, espiritual e cultural que vem da história de um povo.

 

Qualquer projeto ambiental ou desenvolvimentista, mesmo antes de respaldo legal, até mesmo da sua inteligência técnica, para não ser imposição e não criar desconfortos e confrontos com o senso comum do povo, precisa se desenvolver a partir de um processo de escuta. É necessário escutar mais, não simplesmente no contexto de uma audiência pública, valendo-se de informações que precisam da checagem de sua exatidão e veracidade. Esse exercício “da escuta” precisa ocorrer não apenas em instâncias governamentais ou jurídicas. A instância do senso comum que está na opinião do povo é um elemento insubstituível, que se não for respeitado pode transformar-se em manifestações com o objetivo de conter perversidades, indiferenças e autoritarismos.

 

Royalties são necessários? Natureza, patrimônio cultural, religiosidade, valores e vida simples são mais importantes. Em questão está a relação do homem com Deus; e não simplesmente do homem com seus interesses lucrativos. Na relação com Deus, surge uma dinâmica importante que pode fazer nascer a possibilidade única de mudar cenários desumanos. Trata-se do caminho a ser seguido para que os projetos de exploração da natureza considerem as dimensões todas, especialmente aquela que se refere ao respeito e preservação do meio ambiente.

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte