20 DE NOVEMBRO: Cristãs e cristãos conscientes, profetas da esperança na luta contra o racismo.
“Pela causa do Vosso Reino” – Dom Pedro Casadaliga – Oração dos Mártires da Caminhada
Ao vivenciarmos no dia 20 de novembro, o Dia da Consciência Negra, criado no ano de 2003 e promulgado como lei nacional no ano de 2011, pelo decreto 12519, nós, enquanto cristãos e cristãs, profetas da esperança, possamos voltar nosso olhar para a realidade do povo negro e relembrar a vida de diversas figuras que lutaram contra o racismo em nível mundial. Ainda assim, no século XXI, no ano de 2019, são inúmeros os tristes e cruéis casos de racismo no Brasil e no mundo. As reproduções do racismo e sua presença como problema estrutural são vistas no alto índice de assassinatos da população negra periférica; no aumento do número de presos pobres e negros; nos alarmantes índices de feminicídio e violência doméstica e obstetrícia da mulher negra; nos crescentes casos de intolerância religiosa a pessoas de crença baseada na matriz africana, como também a violação a espaços de pertença das religiões afro; nas diversas situações racistas vivenciadas no cotidiano da sociedade.
As novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora do Brasil, em seu número 112, atentam sobre esse problemático quadro do país e a necessidade de enfrentamento do racismo. Parafraseando a fala do Papa Francisco em uma conferência realizada, quando afirma: “A Igreja diante da crescente propagação de novas formas de segregacionismo e racismo é conclamada a tornar-se testemunha humilde e laboriosa do amor de Cristo, a “cumprir e inspirar gestos que possam contribuir para construir sociedades fundadas no princípio da sacralidade da vida humana e no respeito pela dignidade de cada pessoa, na caridade, na fraternidade e na solidariedade” ¹. Além disso, manifesta-se no número 113 da DGAE, a preocupação da Igreja igualmente com a realidade das comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas etc., povos de fé, luta e resistência, por isso, deve-se reconhecer e defender os seus territórios, suas culturas, seus direitos e suas religiosidades.
Portanto, o Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu se solidariza, mobiliza e luta, por meio de sua Pastoral Social, pela causa do reino de esperança, libertação, luta, consciência e igualdade. Afirmamos nosso compromisso na luta contra o racismo, contra o segregacionismo, contra a opressão e todo tipo de preconceito, inclusive o religioso, prezando sempre pelo diálogo inter-religioso. Necessitamos promover a construção de um país e de uma sociedade que se liberte totalmente do preconceito racial, por meio da conscientização e da valorização da vida. Precisamos de mais políticas públicas sobre a temática, com a finalidade de erradicar o racismo e o genocídio da população negra. Precisamos dar fim aos casos de intolerância religiosa e verdadeiramente proclamar o fim da escravidão, contexto que ainda pode ser visualizado na atualidade, por meio da flexibilização das leis trabalhistas e da precariedade das condições de trabalho.
Solidarizamo-nos com todo o povo de fé, comunhão e libertação da Pastoral Afro Brasileira e toda população negra no combate ao racismo. Que Deus Misericordioso, Pai de todas e todos, nos conceda a Sua paz e Sua bênção, por meio da intercessão da Negra Mariama, a Senhora Aparecida e de São Benedito, o negro.
“Negra Mariama chama pra cantar
Que Deus uniu os fracos pra se libertar
E derrubou dos tronos os latifundiários
Que escravizavam pra se regalar”.
(Pastoral Afro)
Pastoral Social do Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu
Pe. Nivaldo dos Santos Ferreira
Reitor e Pároco do Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu
¹ FRANCISCO. Discurso aos participantes da conferência mundial sobre o tema “xenofobia, racismo e nacionalismo populista, no contexto das migrações mundiais”, quinta-feira, 20 de setembro de 2018