Jesus era um homem capaz de perceber as realidades que o cercavam. Tinha um olhar sensível e podia captar as necessidades das pessoas ainda que elas não dissessem. Foi o que aconteceu muitas vezes quando Jesus estava na sinagoga. Nesse ambiente religioso, o povo judeu fazia orações e ouvia a Palavra. Aqueles que frequentavam as sinagogas eram pessoas familiarizadas com a religião e com as Escrituras. Ali se encontravam os fariseus e os mestres da Lei. Os primeiros eram um grupo de judeus devotos à Torá que surgiu alguns séculos antes de Cristo. Foram eles que criaram as sinagogas para que o povo tivesse onde se reunir em torno da Palavra. Os segundos eram os ‘professores’, ou seja, aqueles que estavam encarregados de ensinar a Lei.
Você está em:
Ambos conheciam as palavras de amor e misericórdia que o Senhor dirigira a seu povo. Conheciam a compaixão de Deus ao suscitar Moisés para libertar o povo escravo no Egito; sua paciência ao formar um novo povo que pudesse entrar na Terra Prometida; seu modo de escolher os pequenos como fez com o rei Saul, vindo da menor das tribos de Israel e com Davi, o mais jovem filho de Jessé; conheciam a largueza do coração de Deus ao perdoar misericordiosamente o adúltero e assassino Davi… os mestres e fariseus conheciam tudo, mas algo lhes aconteceu… decoraram a ‘letra’, mas a Palavra deixou de ser um evento em suas vidas. Uma espessa escama cobriu o olhar deles e já não eram capazes de enxergar ao redor com o olhar do Pai. Conheciam a Palavra do Pai, mas não sabiam ver com o olhar do Pai. Embora vivos, padeciam em um sono de morte…
Jesus veio para revelar a face de Deus. A sensibilidade de Jesus aos sofrimentos que o cercavam manifestava o modo como a Trindade vê o homem: com verdade, ternura, misericórdia, bondade… o convite de Jesus para nós é aprender a ver e nos envolver como Ele mesmo fez. E o que nos impede? O pecado nos introduziu em um sono profundo, um sono de morte; adoeceu nossa capacidade de enxergar o outro e de nos sensibilizamos com suas dores. Isto porque feriu frontalmente o amor em nós. E quando se fere o amor (que é sempre um sair de si pelo outro), a capacidade de amar os outros se volta para si mesmo e vai crescendo na forma de egoísmo.
Com expressões maiores ou menores, o egoísmo nos prende em nossos próprios interesses até não sabermos enxergar aqueles que padecem ao nosso redor. Quantas pessoas estão doentes em nosso bairro? Quantas pessoas passam fome na nossa cidade? Quantos idosos padecem de solidão nos arredores de nossa casa? Jesus hoje deseja nos fazer participar da sua alegria! A alegria de se compadecer, de reconhecer a fundo e com admiração a dignidade do ser humano; de reconhecer o outro como irmão e perceber a solidariedade universal que nos une.
A graça de Deus é sempre generosa! Ele virá em nosso auxílio e, se encontrar nosso coração aberto e desejoso, poderá despertar nosso olhar para realidades que hoje nos parecem invisíveis. Há escamas em seus olhos? De que espessura elas são? Depois de reconhecê-las, vale à pena se deixar conduzir pela graça de Deus para que Ele conduza nosso olhar para as realidades sobre as quais estão os seus olhos… e nada escapa a este olhar… pois seu amor abraça mundo inteiro!
Ludmila Rocha Dorella
Consagrada da Comunidade de Vida