Vivemos num tempo de rápidas transformações e mudanças. O progresso da ciência e da técnica é tão grande que muitos se sentem perdidos, incapazes de acompanhar tanta novidade.
O mundo da informática, cada vez mais sofisticado, faz os mais velhos se sentirem “à margem”, quase analfabetos no mundo contemporâneo. Quem não sabe se comunicar por internet não se atualiza. E isso ocorre não só no segmento da informática. Parece também que para todas as ciências não há limites, uma descoberta atropela a outra. Os conhecimentos adquiridos em tempos passados parecem superados. Em vez de cultivar o que se aprendeu, é cada vez mais necessário correr atrás de novos conhecimentos. Essa nova realidade também cria um abismo cada vez maior entre os que têm acesso ao conhecimento e aos que, sequer conseguem assinar o próprio nome. Existe uma multidão de analfabetos e semi-analfabetos à margem de uma sociedade supertecnizada.
A mundialização do mercado
O mundo está a mercê de um grande e voraz mercado que estende seus tentáculos por todos os continentes, por países ricos e pobres. O que importa é lucrar. Os grandes valores humanos são ignorados. Ao ídolo do neoliberalismo são sacrificados milhares e milhares de vítimas: são crianças vivendo em péssimas condições; pobres, analfabetos e desempregados sem qualquer oportunidade e os idosos clamam pelo amparo e cuidado que lhes são de direito. A compulsão pelo lucro leva as empresas a desrespeitar o Planeta, esgotando recursos naturais, poluindo as águas e o ar, comprometendo o habitat humano para as futuras gerações.
O individualismo
Tal sociedade cria pessoas individualistas, somente preocupadas com seu bem-estar material. Pessoas que caem no consumismo desenfreado e se fecham diante do palco de um mundo cheio de miséria e injustiça. A frustração, gerada por uma busca insana pela satisfação imediata dos desejos faz que as pessoas percam o sentido da vida, e faz que muitos corram atrás de satisfações como drogas, álcool e outros vícios. Procuram, muitas vezes, religiões esotéricas como solução mágica para sua insatisfação. A ética sexual e social Outra característica do nosso tempo são os critérios a respeito da sexualidade. Os tabus antigos deram lugar a um uso desenfreado do sexo e, com isso, entraram novas frustrações causadas pela falta de compromisso, pela instabilidade das relações. A solidão que resulta dessas condutas se agrava a cada nova tentativa frustrante e, não raras as vezes, leva ao abuso das drogas.
No âmbito social falta de ética contamina as relações, especialmente no campo da política e da economia. As notícias de cada dia confirmam essa triste realidade. O povo escandaliza-se, mas sente-se impotente para modificar a situação.
A volta ao sagrado
Tudo leva a crer que os ingredientes dessa nova realidade resultaria no afastamento cada vez maior do Sagrado, mas eis que um movimento contrário às expetativas surpreende. É o que chamamos de “volta ao sagrado”. É tão intenso o vazio, que muitos retornam à religião de origem, contudo, os mais desavisados acabam vítimas do charlatanismo. Vale tudo: adivinhações, superstições, promessas de curas e adesão a antigas e novas seitas. As pessoas procuram uma solução para seus problemas pessoais, procuram energias positivas para enfrentar a vida. Basta olhar os diversos programas religiosos na TV.
Nota-se que muitos procuram satisfazer sua religiosidade fora de uma instituição, ou atravessam com facilidade diferentes tradições religiosas sem firmar-se em nenhuma delas, inconsequentemente descomprometidos com seus valores e exigências. Tal vivência se funda unicamente na experiência pessoal do sagrado, em geral com forte carga mística, emocional e envolvente, tentando apanhar no ar um milagre que dê consistência à vida interior. Para refletir: Por que todos esses aspectos se constituem em desafio para a catequese com adultos?
Neuza Silveira de Souza
Coordenadora da Comissão Bíblico Catequética de Belo Horizonte