Ando pensativo sobre o nosso Brasil. Estamos a poucos dias de elegermos os nossos representantes no legislativo e executivo. Sei que a nossa democracia é ainda muito frágil. Passa por uma grande crise. Mas ainda acredito que esse sistema é o mais adequado para garantir os direitos humanos e constitucionais de uma nação. O voto não é o único meio de fazer acontecer as mudanças que almejamos. É preciso também a participação contínua e acompanhamento dos processos políticos e partidários. Contudo, penso que não podemos desacreditar da importância e muito menos entrar nas fileiras dos que estão defendendo a abstenção ou anulação deste. Assim, compactuamos com posturas alienantes e de interesses escusos. Ou mais grave, defendemos posições totalitárias.
A minha preocupação, o pano de fundo que me inquieta nesse processo todo é o seguinte: a história do fascismo e do nazismo possibitam, historicamente, uma atenção muito peculiar, quando se fala em “nacionalismos”, “ameaça de outras culturas”, ” pureza de ideias”, “defesa de ‘nossos’ valores”, “ameaça dos imigrantes”, “famílias verdadeiras”. Não sinto que a preocupação das atuais lideranças, nas mais diversas dimensões da vida social, sobretudo, as de maior influência e poder, seja com as garantias fundamentais do direito inalienável das pessoas.
Estamos intoxicados no momento atual com uma ideologia neoliberal extremista que torna tudo como “valor de mercado”. Além de “Deus”, até a verdade e a liberdade viraram mercadoria. São vendidas e pagas conforme esse interesse ideológico citado. Não importa que “sejam” de fato, mas que “vendam”. O noticiário brasileiro e as nossas redes sociais estão aí para comprovarem o que afirmo. É o absurdo da primazia do ter sobre o ser. Vivemos preocupados com a queda da bolsa de valores e nem nos indignamos com o sofrimento humano que se expande diuturnamente nas massas descartáveis do capitalismo selvagem.
E infelizmente, tudo isso, orquestrado por uma mídia de massa a serviço de uma elite minoritária, um legislativo e um executivo que passam a ser assumidos por grandes empresários e suas corporações, e um judiciário que, para garantir a “farsa” democrática, passa a fazer da hipótese um fato comprovado na subjetividade de togados afinados com essa estrutura agressiva ao Estado Democrático de Direito. Óbvio que não se descarta aqui, honrosas e corajosas exceções. Dentre muitas, ressalto, no âmbito eclesial de alcance mundial, o nosso Papa Francisco. Praticamente uma única voz na contramão desse processo tão contrário aos valores do Reino de Deus. Tão contestado, simplesmente por buscar coerência com o que dizemos que acreditamos: o Evangelho. É uma pequena partilha e preocupação desse irmão que, como você, está buscando resistência a esse desmonte do Estado Democrático de Direito. Continuemos juntos na luta por meio da nossa esperança concretizada na fé em solidariedade.
Pe. Aureo Nogueira de Freitas
Pároco e reitor do Santuário Arquidiocesano São Judas Tadeu